10 de novembro de 2014

O que poderá ter acontecido?
Nós, que querendo existir por um único momento florido que fosse, acabamos por deixar escapar por entre os dentes, de dentro, de muito dentro para muito fora, de dentro, do centro, do meio para além das bordas, o que fazia de nós, sem medo, sagrados.
E agora?
Agora nosso amor, o amor que havíamos engolido, comprimido rasgando a garganta com um gole de água suja, agora nosso amor, o amor que havíamos engolido, comida barata dançando dentro da boca, agora nosso amor transformado em bala de aço atravessa as paredes que há tempos erguemos em nossa beira, vagabundeia louco rumo ao infinito de fora.
Mas não tropeça para depois do fim sem levar consigo, agarrado, um tasco dos nossos corações. E contrariando o que sobrou dos corações (cacos soltos catados molhados de lágrimas), nos felicitamos, gargalhamos e (meu Deus!) existimos por um momento florido, e florescemos para dentro e para fora, para o meio e para as bordas e para acima da cabeça e para abaixo dos pés, e o momento sagrado, o florido, perdura, e por isso perduramos.
Perduremos.