29 de abril de 2012


Tudo começou quando eu, no meu corpo de menino de 12 anos, olhos enormes, eu e minhas costeletinhas dos
 lados, abri a boca e os ouvidos e de mim saiu um bicho que até hoje me devora, ele é pessoas que me amam
 e querem me tocar, ele é sexo sem carinho. Depois me transformei num inseto minúsculo. Eu soltava fumaça,
 sinais de fumaça que ninguém nunca entendeu.hoje eu nem sei em que bicho me transformei, porque de lá pra
 cá já fui muita coisa, talvez eu seja só as pegadas de todos esses animais, só o eco dos rugidos mais altos.
E foi Cleiton, Álvaro e Gustavo os três mestrres, os que dominavam um reino que eu mal conhecia. Passei a 
conhecer, estava tudo em ruínas, maravilhoso
O gramado seco e o céu cor de chumbo quase combinavam com suas roupas desbotadas, ele metido num jeans mais velho que ele próprio e ela num vestido que lembra vagamente um passado preto, e seria audácia demais qualquer um dos dois dizer que não dava importância para como estavam vestidos, pelo contrário, ela passou muito tempo experimentando roupas até alcançar esse vestido, enquanto isso ele procurava o cinto que ficasse melhor naquela calça velha,  e agora os dois, satisfeitíssimos e mal vestidos, e sob o céu prestes a desabar, se encontravam no ponto mais alto que conheciam na cidade, em cima de um morro formado há anos pelos restos da construção de uma trans-estadual. O morro formava um aclive ainda mais acentuado no terreno já ascendente, e ambos o escalaram como dois alpinistas desbravando um lado de uma montanha. Chegaram ao topo do morrinho trôpegos e ofegantes, ali se sentaram como dois velhos olhando os movimentos de uma praça. Taquicárdicos, cáusticos pensamentos e a grande objeção. Silêncio, um velho ou velha.
clara manhã, claro par de olhos, claros cachos na cabeça, flutuar.
grande par de olhos no escuro, cabelos molhados, dormir.
canto do quarto, ainda vou lá, ainda falo na hora certa, piscar.
só preciso de um pouco de espaço, de ar, flutuar.