6 de fevereiro de 2012

São três, e tão diferentes um do outro que mais parecem vindos de filos distintos. O maior dos três, alto, gordo e lento, como um animal doente, era o que mais se traía, sua vida era uma mentira contínua, e desde de sempre vivia de supertições e rituais estranhos. O do meio em tamanho era o maior em inteligência. Corpulento, pálido, com dedos grossos, vivia tremendo e fazendo caretas estranhas, pensava muito, mas não era um homem falador, talvez isso causasse os tremeliques. O menor dos três, uma mulher, era febril  e rápida, parecia estar sempre suada, com os cabelos desarrumados e a roupa amassada, uma mulher bonita em todos os aspectos, era como um cão se humilhando por um carinho. E os três vivem e se esfregam feito três cobras, um sobre o outro, se machucando, tudo estranho e molhado de choro, tudo muito estranho. São três estranhos se estranhando, aliens um para o outro, o que um sente o outro nem sabe o que é, cada um cresceu para um lado, nem se sabe se eles ainda têm um ponto em comum, nem já tiveram. O maior, todo performático, polido, não se importava com nada, os outros nem sabiam se todos os seus sentidos funcionavam perfeitamente, seu desinteresse era constrangedor, nem sequer fazia planos. O do meio, arisco e com um escudo enorme, queria ser um sábio e os outros não podiam fazer nada quanto a isso. Ele transformava cada diálogo em um duelo, esfregava seu conhecimento nos outros, queria liderar. E a menorzinha, toda arisca, assustada, não terminava nada, sempre suada e falando besteiras, era a primeira a chorar, achava problemas em tudo, e quando não achava, os criava. Os três moram no mesmo lugar, pequeno, cheio da organização minuciosa do maior, dos livros e lembretes do outro e dos desenhos e mensagens da menor. Um lugar estranhíssimo, um campo de batalha diário, A mulher diz que a casa deve ser cuidada para não atrair energias ruins, depois chorava e dizia que era complicado manter essas energias do lado de fora, ainda mais sem a ajuda dos outros dois. Então o maior limpa tudo e põe cada coisa no lugar certo, porque ele é se interessa em manter o controle da própria vida. O do meio nem se    E matam o tempo e o tédio como matamos moscas, e sem querer transmutam em cansadas corajosas criaturas incríveis, ou se perdem e enlouquecem, o que é mais confortável e acontece com a maioria. 
  Olhar pra qualquer um deles agindo naturalmente é por si só espetacular. Não formam um país, colônia, casta, conglomerado, subespécie ou partido, nem sequer se reconhecem totalmente no primeiro olhar, mas é como se carregassem consigo uma bandeira invisível que anuncia sua origem em comum. Alguns são assim sem porquê, nunca vão além do prelúdio. E o tempo até certo ponto parece não não seguir em frente, mas para os lados, atravessando inusitado as transversais, fugindo do trânsito. Eles só envelhecem porque o tempo os chuta para a frente, esse desenvolvimento inevitável os entristece, eles querem mesmo é a vida embrionária, e que todo esse show desnecessário nunca passe do prelúdio, e se passar, que caiam como carne crua no chão. Desfalecer. O único de sua espécie, o último, derradeiro, é um novo dia e eles se sentem bem se queimando ao Sol feito répteis. Prelúdio. Pausa para um ou três ou cinco cigarros. Pausa. Paroxetina nos olhos, paroxetina nas paredes, clonazepam, diazepam, bromazepam, lítio, morfina, flutuar. Fim do prelúdio, do dia, do cigarro, da vida da vespa na parede. Embalar-se num sono sem sonhos, se engasgar. Vão em frente feito uma manada de animais raros, os últimos de sua espécie, sem parar nem para respirar ou esfregar a pele uns nos outros. Prelúdio.