11 de novembro de 2014

Antes de tudo houve um vaso de cristal quebrando no chão o silêncio do meio da noite, não sei que dia, que noite. Eu era criança e não tinha medo, mas esse maldito objeto que quebrei... Eu não sabia o que era, não fui ensinado, não me disseram nada sobre o vaso, por isso, por paixão, sem tocá-lo, o quebrei. O vaso estava fora e dentro, longe do meu corpo e emaranhado nas minhas tripas. Ninguém captou o fato de uma coisa, dentro e fora, ambas raríssimas, quebrarem sem dor.
Depois da quebra, houve um soluço. Eu era mais velho e não chorava. Era noite, sempre noite. E como o vaso, a noite era fora e dentro. Eu não conhecia o choro. Num momento eu estava só quebrado, e no momento seguinte, quebrado e molhado de lágrimas. Não foi de todo um choro, ou se foi, foi apenas um início, um espasmo, então deixei escapar um grito de leve. Dentro do meu peito alguma coisa apertou, e então, com alguma coisa muito linda espremida no peito, e por medo e ingenuidade, segui, com o dentro estraçalhado e inchado por essa coisa...

[incompleto]

10 de novembro de 2014

O que poderá ter acontecido?
Nós, que querendo existir por um único momento florido que fosse, acabamos por deixar escapar por entre os dentes, de dentro, de muito dentro para muito fora, de dentro, do centro, do meio para além das bordas, o que fazia de nós, sem medo, sagrados.
E agora?
Agora nosso amor, o amor que havíamos engolido, comprimido rasgando a garganta com um gole de água suja, agora nosso amor, o amor que havíamos engolido, comida barata dançando dentro da boca, agora nosso amor transformado em bala de aço atravessa as paredes que há tempos erguemos em nossa beira, vagabundeia louco rumo ao infinito de fora.
Mas não tropeça para depois do fim sem levar consigo, agarrado, um tasco dos nossos corações. E contrariando o que sobrou dos corações (cacos soltos catados molhados de lágrimas), nos felicitamos, gargalhamos e (meu Deus!) existimos por um momento florido, e florescemos para dentro e para fora, para o meio e para as bordas e para acima da cabeça e para abaixo dos pés, e o momento sagrado, o florido, perdura, e por isso perduramos.
Perduremos.