3 de janeiro de 2012

Quarto 5-4

  O ar aqui não é pesado, mas cada movimento de cada músculo de cada criatura me parece forçosamente lento  estritamente necessário.
  Quando se caminha sozinho numa floresta, o som de nossos passos parece obsceno e ressoa pela floresta inteira feito um pequeno grito. Interromper o som das folhas, o bater e ranger dos galhos e o arrastar dos bichos, enfiamos uma flecha de fogo em algo vivo, raro e desconhecido. Aqui é como uma floresta, meus pés são graves. Um índio lançando em nosso pescoço um dardo venenoso. Crianças comendo flores.

Noite Fora Noite Dentro

  Noite fora noite dentro. É a loucura, a dissolução mental no ácido mundo, ácida vida. É engasgar-se, envenenar-se, como você chora melhor quando chove. A loucura entra pela boca e entala em algum lugar. Sou venenoso e mordo meu braço. É a loucura? Envenenar-se de si é a loucura? O desarranjo mental, é como você gargalha e chora depois da chuva, Gargalha e depois chora. É loucura ter dentro de mim de tempos em tempos uma tempestade de fogo e gelo e mulher e comida e papel? A louca assumida diz que "isso dá uma agonia na gente nas temos que esconder a ansiedade em algum lugar". É isso, é ter vergonha do próprio pau, da própria buceta? É ter de esconder as coisas? É dormir e sonhar, é homoerotismo, é a pressa sem motivo e direção. É noite fora e noite dentro.

Quarto 5-3

  Ando, como, olho e beijo, e tudo é ou ridículo ou imoral. Há impregnada em em como um remédio que enrola a língua certa obscenidade, meio horror digno dos monstros. E cada momento é o último , a última chance de vencer a mim mesmo, a cada momento estou cru e virgem e me espantando com tudo, orque tudo é o fruto de um mundo novo que acaba de se criar, e eu absorvo o máximo de sensações disso mesmo sabendo que no momento seguinte não me lembrarei do que fiz ou senti no momento em questão. Tudo me excita e me anima.

  Por esses momento se me afigurarem como uma existência nov a e frágil demais eu choro e tudo quebra. Recém-nascido inocente logo assassinado, mal tenho tempo de pensar sem ver a boca enorme me engolindo para depois me cuspir cru, sem saber o que vivi, senti, desejei ou aprendi no estado anterior. Morro e renasço, e morro, e renasço absolutamente todos os dias e sempre esterelizado, sem parto ou desova, pois sou numerosas, incontáveis existências inferiores que deslizam umas sobre as outras numa orgia dolorosa e triste, deslizam e caem no chão, estourando, sou eu uma colméia? Ha Ha Ha fucking Ha, sou um só, só que destroçado, os membros soltos se mexendo e a boca gemendo. Um feto abortado.

Quarto 5-2

  Um dia ainda vou, vou sim, estar num vasto campo, uma planície imensa com plantas sem flores aqui e ali, achando muito esquisito as estátuas de mármore, aquelas que são tudo menos eu dorsos humanos, cabeças sem corpo, duros seios de pedra. Bichos? Tudo pode ser um bicho. Elas se movem quando as toco, gritam como animais, com horror. o ar é fresco e a luz é branca e leve como a das manhãs após chuvas noturnas. Tudo é grave.

Quarto 05

  Um ponto preto no céu, sabe-se lá em que camada atmosférica ou seguindo qual corrente de ar. É só um ponto lá no alto que  porcamente conseguimos relacionar com os passarinhos que vemos saltitando pelo chão. Tão colossal é o corpo de um bicho se movimentando pelo ar que mal conseguimos imaginar que o bicho emm questão já esteve algum dia no chão. O ponto preto pode ter comido arroz de sabe-se-lá-aonde, sentido o cheiro de frutas raras e deliciosas e agora passa ali, o ponto preto deslizando por baixo da nuvem que eu queria ser, senti-lo atravessar o meu corpo com as asas ruflando, sentir no bico do bicho gosto de sementes. Mas, até onde eu sei, o ponto não passa de um ponto e eu não passo de qualquer coisa que observa o ponto passar atrás da árvore. Sem ressonância. Até mesmo eu?