24 de março de 2015

 Permanência não existe, eu sou a constante mudança do universo, a eterna transfomação em absolutamente nada especial do mundo. Mesmo o amor se transforma, mesmo a pedra se vaporiza e mesmo o mais encrustrado dos hábitos de pensamento um dia se esvai. Não existe agora, não existe o aqui, somos cada um uma onda e um beijo, um bicho que se move por simplesmente se mover.    Permanência é uma doença, é um pecado, que, por deus, enquanto seja esse corpo, que eu não me limite a ser uma unidade. Se ninguém fosse o que é, não me acanharia por um olhar, falaria olhando nos olhos, no de dentro, olharia no fundo, no âmago, assim como me olham, assim como arrancam a minha pele e destrincham minhas víceras por simplesmente se permitirem ser alguém. Nunca fui alguém. Alguma coisa, talvez, mas alguém, nunca. Eu sou a possibilidade de ser todas as coisas, a dúvida, a incerteza, a impermanencia, e que eu seja sempre todos os eu que já fui e muitos mais. Dos venenos, que me venham os mais fortes, das delícias, as mais tenras. Plâncton, do grego plagktós, organismos unicelulares que não possuem poder de locomoção e se movem livremente na coluna de água. O alimento que me virá será o que eu mereço, tocará em mim quem o mundo decidir, sou só um floco de neve que cai, derrete e fantasticamente cria o movimento mais belo do universo, o que simplesmente me foi ordenado. Não temam serem escravos de vossos pensamentos, pois são eles as coisas mais puras que têm. Sejamos todos o resultado de tudo o que vivemos, completamente, vulneravelmente. Eu sou o fruto de milhões de pessoas que se amaram, sou o sobrevivente de milhões de catástrofes, de milhões de impossibilades. meus pais um diaforam apaixonados, e assim meus avós, meus bisavós e os pais deles, sou no final o fruto da total impossibilidade, sou o desacerto que foi acertado, o torto encaixado, e assim são todos e tudo que existe. Quattrilhões de milagres em nossos passados, quatrilhões em nossos futuros, quatrilhões dentro de nós, nos ossos, nas pontas dos dedos e derretendo em cima da língua, que possamos de tudo, inclusive dos venenos, beber da turbidez, nadar na turbidez como se eu e você e todos os outros mergulhassem do topo do céu azul até o fundo, a rudez da terra.