24 de outubro de 2014

Um movimento, um único movimento, talvez de mãos, pegar alguma coisa do bolso, segurar a caneta entre o indicador e o polegar. Após esse movimento as cortinas cairiam e confete atravessaria o ar do teto ao chão, e então palmas. "Parabéns! Você conseguiu!", e a partir dali uma vida de verdade e sem angústia, uma vida feliz. Uma vez ela me disse "tenha paciência, um dia sem perceber e sem aviso você desabrochará numa flor maravilhosa".
Um movimento, apenas um movimento ou quem sabe meia dúzia de palavras, "ama-te", escrito na mesa suja. E então as pedras erguidas equilibrando-se com delicadeza cairiam, desabariam quilômetros céu abaixo. Pedras que são minha parca contribuição para o parto do eu Maduro & Equilibrado, Decente & Sensato, essas pedras formariam meu alicerce, me fariam dizer "bom dia" sem esperar um tapa. E como distinguir, ao fazer um movimento, o gozo da ruína, e se eu, ao tentar iniciar A Vida, entrar no trem que nunca chegava, ser abraçado pelo mar na beira da praia, acabe por golpear a base da minha pilha de pedras? Então os pensamentos travam e imóvel permaneço, e sufoco (por motivos que aqui não cabem, que nem em mim cabem), o medo de que as cortinas caiam, o confete caia e as pedras caiam.
"Você já entrou no trem", ela diz.