24 de outubro de 2014

Um homem deitado na cama, os olhos fixos em um ponto invisível no teto, os pés frios e os olhos quentes,
 um gosto de agonia na boca. Sem sono, e ainda cedo, o tédio e as idéias loucas (conhecidas de perto) o guiaram forçadamente por um caminho de doces delírios.
Cochilos, bocejos e desejos e o forçaram a  fazer o que contradizia os pensamentos: O fizeram responder à perguntas o doíam a cabeça.

 A primeira pergunta que o machucava e que decidiu procurar alguma resposta ou verdade foi bem simples,
mas que pelo seu estado se tornava incrivelmente difícil. "Quem eu sou?"
Depois de um tempo divagando sobre amigos, família, momentos de prazer, lanches noturnos e músicas
melancólicas, chegou a uma resposta mais ou menos verdadeira. Não descobriu quem é, mas descobriu como se sentia e

m relação às outras pessoas. Ficou orgulhoso.

 Sentia-se diferente, deslocado, se sentia, fraco, anormal e inútil, mas não sabia o porque.

  No passado, tão distante quanto outra vida, se lembrava do quanto era feliz e despreocupado,
lembrava de quando as pessoas o adoravam por ele ser somente ele, e lembrava de seus pensamentos simples
 e loucos, borboleteando e fazendo cócegas em sua cabeça. Foi como se seu mundo o digerisse vagarosamente,
 como se aos poucos, pequenos momentos de confusão, loucura e humanidade, o houvessem transformado em alguém
completamente diferente.
Hoje não resta mais nenhum pedaço do que foi um dia. Hoje caminha com o olhar assustado e os passos
rápidos, hoje evita conversar com os amigos para que eles não descubram em que se transformou.
Seus dias, antes engraçados e certos, hoje são cheios de ambiguidades e curvas.

 Agora sentado na cama, tremendo, com a cabeça entre as mãos, chora por não ser mais quem ele queria ser
, chora por não conseguir ser como os gigantes à sua volta, De repente, um sorriso. Não um aqueles sorrisos
 insanos que nós damos quando estamos tristes, para que a dor seja ainda mais forte, mas um sorriso de orgulho e prazer.

 De uma coisa o homem tem certeza, possui uma característica que ninguém mais tem. um dom dado por algum
 dos seus deuses mais íntimos e protetores. Nada comparado à telecinese ou a soltar raios pelos olhos,
mas esse dom o havia dado emoções estranhíssimas algumas vezes. Possui o poder de atribuir o máximo
sentido ás coisas mais banais e desimportantes que observava. um elogio, por exemplo, não era simplesmente
 um elogio, o elogio entrava pelos seus ouvidos e inundava a sua cabeça com um líquido adocicado, um elogio o mantinha
feliz por dias, e tinha o poder de curar feridas profundas.
Mas o contrário também acontece, as vezes, um olhar de lado ou uma risada irônica o fazem entrar em
um estado de choque, de repente, de um sábio e inteligente jovem, se transforma em uma pessoa nojenta e sem um mínimo
de humanidade que o faça ser digno de pena.

 E assim ele vive, entre sorrisos irônicos, elogios e sensações, sem saber o que o espera na próxima curva, sem saber
 ao certo quem é e quem deseja ser, sem saber sobre o mundo em que foi arremessado. Sem nenhuma capacidade de se equilibrar e dando um sentido inexistente a cada mínimo movimento de humanidade, o homem procura pedaços de si mesmo em tudo o que faz, procura moléculas dispersas em cada gesto, em cada passo, em cada abraço.

23 de setembro de 2008