28 de outubro de 2014

E a sarjeta grita grita e grita meu nome, que noites aquelas! Que dias aqueles! Dia após dia ele esperaria que suas lágrimas desaguassem num poço brilhante em frente aos seus pés. Noite após noite ele esperaria um corpo nu descer o morro em frente a sua casa com promessas de incenso e mácula. Essa pessoa desceria sorrindo, nua, mais nua do que qualquer pessoa já ficou, translúcida, branca, e não diria nada, apenas entregaria um coração seco, e então ele perceberia tudo sobre as próprias lágrimas. Elas escorrem para dentro, encharcando o coração (percebeu isso no momento em que o coração seco foi-lhe ofertado) afogando e depois diluindo todos os desejos. Com um coração seco e limpo nas mãos, mas com um coração úmido se despedaçando dentro. Impossível se dar a chance de escolher um, visto que o de dentro é o que preenche seus vazios, mas mesmo assim ele em toda sua bondade oferece o lindo coração desértico para ser colocado ao lado do encharcado.
Que noites aquelas! Que dias aqueles! tudo encharcado dentro e fora, tudo pingando em tudo. Comunhão. E meu corpo, em vibração alterada, alterando tudo. Um véu, o véu da inocência, do desejo e do esquecimento. O véu que pus no mundo em alguma época da minha vida perto dos 10 anos de idade e desde então: Desejo, Inocência & Esquecimento.