1 de julho de 2010

Monólogo

Trânsito parado, o rádio do carro está estragado estragado, foi ajustar o retrovisor interno e sem
querer viu o próprio rosto.

-Um dia você não vai olhar para mim com esses olhos baixos, você vai olhar direito pra mim e rir, talvez por eu ser um idiota, talvez por orgulho. Se eu pudesse eu te sacudiria e diria o quanto você é incrível. Você vê vê tudo fantástico com esses seus olhos apavorados, rapaz, menos você mesmo! Você sabe que cedo ou tarde você vai ter que virar esses olhos pra dentro e será obrigado a amar cada defeito muído. Sem vergonha, rapaz, sem fúria. Eu sei tudo sobre você, não quero te perguntar nada, sei que você gosta de golpear paredes com os punhos, isso é ridículo! Eu tenho te observado quase todos dias, só não te sigo quando você todo zumbi fica andando por aí sem ter para onde ir, deixo esse momento para você fazer o que quiser, está livre de mim toda vez que sai correndo insano por aí, mas ninguém consegue correr por muito tempo, rapaz. Você não é um maratonista existencial, um dia você vai cair e se machucar muito. Você não quer se livrar de mim, eu sou quem põe seus olhos baixos com coragem nos livros, e faço isso por mim, não por você. Eu sou quem inicia seus péssimos parágrafos, você só os completa. lembra quando costumava ser o contrário? Pois é, eu venho tomando o seu espaço, e em breve vou tomar o seu lugar. Não se amedronte, essas coisas acontecem com frequência. Independentemente do que aconteça, conserve esses olhos baixos, em breve isso vai ser só sarcasmo gestual.

Som de buzina. Xingamento. O trânsito havia tornado a andar. devolveu o retrovisor à posição normal e voltou a dirigir.