1 de julho de 2010

Acordou de Novo

Acordou deitado na cama. Acordou? Nunca. Agora os olhos pregados no teto, desespero branco, leitoso, tristeza digestiva. Não se perguntou nada, não se questionou sobre nada, nem sequer quis olhar o relógio. Tudo muito cru ainda, ele sempre acordava assim, empapado de toda essa pureza desonesta ou dessa honestidade impura. Só se mantinha deitado na cama seca, confortável. Beijava o tempo, não tinha medo, esteve tanto tempo gritando alguma coisa que sequer percebeu quando dormiu. Teria gritado puxando os cabelos por dias? E dormido, teria feito isso por quanto tempo? Não me direi nada, vou ficar aqui mudo vagando na cama. A tristeza veio, decidir que ficaria calado já era em si certa queda, perda da capacidade de flutuar. Eu sabia que isso iria acontecer, acordei sabendo que iria cair, em breve vou começar a grunhir de novo. Olhou o relógio com pena de si, eram 03:23 de uma segunda segunda-feira perdida. Foi até a cozinha suja, bebeu água e depois engoliu um comprimido seco. Fez isso de propósito. Comprimido engolido a seco preso perto do coração. Acordou deitado no sofá, acordou caído, já impuro e desonesto. Já sem flutuar, o sol ofuscando a visão sem pena. Foi até a cozinha, comeu qualquer coisa sem gosto, Engoliu um comprimido com água e foi até o quarto arremessar o relógio pela janela. Feito isso, se deitou e dormiu de novo, imaginando se acordaria flutuando incrível de novo.