13 de julho de 2010

Poluição

  E se eu te dissesse que eu sou só isso aqui? Que sou só esse desleixo, preguiça, desistência e perdição? Se eu dissesse isso assim, com tudo, sem gaguejar, sem pestanejar nem um por um minuto, você ainda se atreveria a dizer que gosta de mim? Eu tenho esse vício no que é grande, novo, triste demais, alto demais, fundo demais, vergonhoso demais, forte demais, muito perigoso, busco essa força óbvia porque não a tenho em mim. Tantos amores me foram oferecidos com coragem, mulheres incríveis, homens fantásticos, e nós apertados na garganta, e nãos e em seguida soluços. Sou o homem mais corajoso que eu conheço, vou cavando em mim para encontrar qualquer coisa, qualquer preciosidade minúscula, não encontrei nada, como posso ser assim tão vazio? No fim sou eu só pele mesmo? Como eu queria olhar pra todos vocês e amar vocês com a força que eu amo quem eu não conheço, mas não tenho toda essa simplicidade. Como eu tive sorte, como quiseram ser amados por mim as pessoas mais fantásticas, puro diamante, mas por respeito eu digo não e engulo isso tudo quando queria mesmo é me engolir, me digerir, dissolver em mim, mas vivo assim, com feridas abertas só pra ver de que porcaria eu sou feito. Cada dia um choro diferente, um amor instantâneo, um recomeço, nunca renasço em nada, sou assim, inicial. Talvez eu tenha nascido cedo demais e não consigo sair do começo de tudo, e me sinto mal em viver me desculpando por essa inferioridade óbvia, como eu queria ser maior ou esconder essa desgraça toda com uma máscara. Nunca consegui responder amor à altura porque pergunto "você me ama, mas você ama a quem?" ou se passo por cima disso tropeço ali adiante me perguntando "você ama ela, mas quem ama ela?", num primeiro momento é patético, mas não quero arrancar nada disso de mim, nem a perdição, nem a incoerência, nem a gagueira nem os olhos feios, não são doenças ou bichos-de-pé, quero abraçar a mim e lamber minhas feridas com orgulho, assim como (teoricamente) faço com os outros, ou talvez (e é o mais provável) eu seja mesmo "neutro e vazio", "louco", "sem conserto", "covarde" e tudo isso que ouvi diversas vezes de alguns que estimo e que outros tenta(ra)m me convencer que não são verdades. Como eu tento, e talvez nem deus saiba o quanto me dói o fazer, fazer essas coisinhas medíocres, miúdas, estúpidas e mentirosas que eu faço. A questão principal é que eu não tenho mais questão principal, tentei me procurar em mim, tentei tratar o mundo com simplicidade, tentei uma vida de experimentações, tentei autodestruição, tentei ligar o foda-se e tentei ser incrível e agora, pela quatrilhonésima vez essa coragem que eu nem sequer sei se eu tenho vai se afogar junto comigo até daqui a duas horas ou dois dias ou um mês, até uma palavra ou uma noite de amores mal-resolvidos ou uma notícia boa ou um recado de um amigo nos puxar de volta, limpos. Às vezes eu acho que isso que chamam de loucura ou desamor ou manha seja só a minha parte de dentro que é pra fora, talvez eu tenha rompido e vazei pra tudo, até que eu secasse e dentro não sobrasse nada além de espaço vago, isso explicaria perfeitamente esse papo que eu tenho repetido de ser fantástico e patético ao mesmo tempo. Ou talvez eu sou todo virado pra dentro, e a dor e o amor e tudo mais que eu não sei nomear se misturou e formou isso aqui, talvez eu não saiba vazar em nada e por isso sou assim tão repetitivo. Não faço idéia se é hora de pedir desculpas de novo, só isso que aprendi a fazer até aqui, não tem justificativa nem conserto nem promessa pra nada, é só um "Me desculpa por ser assim?".