19 de julho de 2010

Cama

  E que dizer dessa tua ânsia em me ver de verdade, em ouvir qualquer coisa séria de mim se viver em ti é tão difícil quanto eu aqui? Me sinto de galho quebrado, nauseado, manco, fim de festa que nem começou, não quero que melancolia seja crime, sou desses que ainda gostam de sentar e choramingar a noite toda e não é um corpo quente que me faz de repente não ser eu assim, mas um corpo quente devia meu fluxo, me entorta, é pedir pra alguém me socar o estômago com força. Se olhar já é difícil o suficiente, veja só o que é o olhar dos outros em mim, ele me golpeia forte nos olhos, e fez isso por muito tempo, até eu desistir e decidir olhar sempre pra baixo.

    Talvez minha dificuldade em dizer não ao amor mais físico venha até disso, desse descaramento sem vergonha de considerar digno esse tipo medíocre de atenção. Ah, se fosse fácil dizer tudo assim na lata, eu-te-amo-mais-que-a-mim-mesmo-tenha-paciência-meu-bem, mas não, os elogios são ralos e com esses maditos olhos baixos, eu tenho a impressão de estar com a pele coberta de plástico, me esquivo, esguelho, fujo sempre pelas rachaduras como um inseto pequeno.