31 de março de 2017

   Todos os que se foram nunca se foram de todo, foram deixados, talvez por descuido ou pressa pedaços que doem em quem fica. Pedaços delicados de pés que por eras andaram por ali, pequenas manchas de sangue incoagulável em tudo o que foi tocado. Pedaços, restos, reflexos, sombras, ossos do passado, ossos do passado dos outros presos na nossa vida presente, em nossa pele, nunca purificados nem pelos mais hábeis carniceiros. Eternamente sangue fresco. 
Quem fica também não pode fugir da culpa. Fico por ter deixado pedaços espinhosos demais por onde passei. De quem vai e de quem fica, o invariável é o que fere.