28 de novembro de 2010

SiO2-I

"E agora?", é o que eu choramingo depois desse sei-lá-o-que que me arremessa  pra cima às vezes. E agora? Por onde correr os olhos? Pra quem pedir informações? o que diz o protocolo? Ai, caramba! Nem sequer existe um protocolo! É sem querer que eu quebro a cara nessa angústia, bato o rosto no vidro e de repente me flagro nessa enorme gaiola transparente. E eu não te disse "eu te amo" porque isso seria grotesco e rançoso demais. Aposto que se algum dia uma pedra qualquer na calçada te revelasse que te ama, isso beiraria o ridículo, e é isso que me acontece, estou descobrindo minhas origens minerais, sempre desconfiei que esses olhos feios, duros e parados tinham alguma coisa de pedra. Pura genealogia. Estou mineralizando e isso é bom, bom saber que eu não vou mais ter que andar e falar e sorrir e dizer "me desculpe, eu me equivoquei, não vai acontecer de novo.". Sinto-me cada dia mais duro, inerte e pesado, agora há pouco tive a sensação de ter as articulações endurecidas por um momento. E agora? Agora é voltar ao baixo, ao confortável baixo, mãos macias me lapidando, tirando o excesso de matéria inútil, e da matéria estéril que sobrar, me fazer ao menos belo. Abrir cavernas no meu corpo com dinamite, me podar, diminuir, me dilapidar. E toda essa mutilação não causa quase nada, porque eu não sangro, pedras são tão absurdas sangrando quanto falando.