8 de julho de 2010

Ela sempre foi uma menina muito esquecida, e quando cresceu ficou muito difícil viver numa cidade. Datas filas, senhas, números, contas, regras, ela quase enlouquecia com tudo isso, se entristecia porque achava que ela não foi feita para o mundo. Ela era mais simples, mais natural, queria não ter de lembrar de nada, só assim um novo dia seria realmente novo.O corpo escolhendo o que ficar na memória, sem esforço sem papeizinhos colados em todos os lugares, honestidade biológica. 

Sua casa era repleta de papéis colados em tudo, na geladeira, no monitor, perto da TV, no criado-mudo, na bolsa, no armário e no espelho do banheiro. Pagar, ir, comparecer, telefonar, receber, quando estaria livre de tudo isso? E como se essa loucura toda não bastasse, ela ainda copiava mantras, orações e bruxarias, e colava em tudo quanto é lugar, também. Talvez para não esquecê-la de tentar ser feliz e talvez comprar uma casa no campo, longe de tudo isso. Algumas pessoas são assim, perdidas.