29 de abril de 2012

O gramado seco e o céu cor de chumbo quase combinavam com suas roupas desbotadas, ele metido num jeans mais velho que ele próprio e ela num vestido que lembra vagamente um passado preto, e seria audácia demais qualquer um dos dois dizer que não dava importância para como estavam vestidos, pelo contrário, ela passou muito tempo experimentando roupas até alcançar esse vestido, enquanto isso ele procurava o cinto que ficasse melhor naquela calça velha,  e agora os dois, satisfeitíssimos e mal vestidos, e sob o céu prestes a desabar, se encontravam no ponto mais alto que conheciam na cidade, em cima de um morro formado há anos pelos restos da construção de uma trans-estadual. O morro formava um aclive ainda mais acentuado no terreno já ascendente, e ambos o escalaram como dois alpinistas desbravando um lado de uma montanha. Chegaram ao topo do morrinho trôpegos e ofegantes, ali se sentaram como dois velhos olhando os movimentos de uma praça. Taquicárdicos, cáusticos pensamentos e a grande objeção. Silêncio, um velho ou velha.